OMISSÃO OU PACTO COM O INIMIGO?
Rio - Dezoito pessoas, sendo sete bandidos, morreram em doze ataques perpretados pelo crime organizado desde o fim da noite desta quarta-feira. A informação foi divulgada durante em entrevista coletiva concedida pelo secretário estadual de Segurança Pública, Roberto Precioso.
De acordo com Precioso, sete pessoas morreram carbonizadas no incêndio de um ônibus na Avenida Brasil, houve ainda duas outras vítimas civis e dois PMs foram assassinados. Os ataques deixaram ainda 14 civis e oito policiais militares feridos. Três bandidos foram presos. A polícia conseguiu apreender uma granada M4, dois fuzis e duas pistolas.
O secretário anunciou ainda o reforço do policiamento em 12 favelas do Rio. Ele atribuiu os atentados a possíveis mudanças no sistema prisional do estado em função da troca de comando no governo do Rio. Durante a entrevista coletiva, faltou energia na sede da Secretaria, no prédio da Central do Brasil.
Represália contra ação de milícias policiais
O terror começou a se espalhar pela cidade à meia-noite, em pelo menos 20 carros lotados de homens armados com fuzis e granadas. Embora o secretário de Segurança atribua os atentados à mudança na política prisional, a justificativa dos bandidos, espalhada em cartazes jogados durante as ações (foto), dizia que era uma resposta às milícias formadas por policiais que já dominam mais de 80 favelas.
O ataque mais grave ocorreu na Avenida Brasil, onde um ônibus da Viação Itapemirim com 28 passageiros que fazia a viagem de Cachoeiro de Itapemirim (ES) a São Paulo (SP) foi incendiado. Sete pessoas morreram carbonizadas. Três suspeitos foram presos com as mãos queimadas.
Polícia havia sido avisada
Os alertas enviados pela Polícia Civil, terça-feira, sobre o plano de ataque tramado pelo Comando Vermelho não impediram que traficantes voltassem a impor o terror na cidade. Durante a madrugada, oito delegacias, cabines da PM e até o Hospital Getúlio Vargas foram fuzilados. Cinco ônibus teriam sido incendiados.
Em frente ao Botafogo Praia Shopping, onde uma cabine foi atacada, matando a vendedora ambulante Suely Maria Lima de Souza, 33 anos, ferindo seu filho Gabriel, de 4, no braço e na cabeça, e atingindo no braço o soldado da PM Fábio Chot da Silva, o panfleto dizia: "Rosinha e Garotinho apóiam a milícia contra o pobre e favelado. A milícia massacra os pobres da favela e a resposta é o rio de sangue". Ele tirava o seu primeiro serviço na cabine.
O primeiro ataque registrado foi na Barra da Tijuca, na Avenida Ayrton Senna, a pouco mais de um quilômetro do local onde será instalada a Vila Pan-Americana. Dois PMs foram atacados a tiros de fuzil. Um morreu e o outro ficou ferido.
Homem morre após registrar ocorrência em delegacia
Outro "bonde" começou a atacar Jacarepaguá: 32ªDP (Taquara), Favela Bateau Mouche e Morro da Chacrinha, na Praça Seca, até chegarem à 28ªDP (Campinho). Um homem que havia feito um registro de ocorrência foi baleado e morreu na entrada da delegacia. Pelo menos seis carros que estavam estacionados no pátio da delegacia foram perfurados a tiros.
Na Rua Joana Angélica, uma das mais nobres de Ipanema, um PM foi morto a tiros. Outro homem morreu após dar entrada no Hospital Salgado Filho, no Méier, depois de ser baleado durante um ataque a viaturas ou cabines da PM na área do 3º BPM (Méier).
Na Rua das Rosas, em Vila Valqueire, três policiais militares ficaram feridos e a viatura em que estavam foi incendiada. O Hospital Getúlio Vargas também foi alvo dos traficantes. Assim como a 12ª DP (Hilário de Gouvêia), a 6ªDP (Cidade Nova), onde uma granada foi atirada, a 18ªDP (Praça da Bandeira), e até mesmo a 5ªDP (Gomes Freire), que fica ao lado do prédio da chefia da Polícia Civil. A 29ª (Madureira), a 4ª (Central) e a 12ªDP (Copacabana) também viraram alvos.
O estudante Rodrigo Silva, 21 anos, foi atingido por uma bala perdida quando seguia para casa na volta do trabalho. Ele dirigia um Fiat Uno vermelho que teve o párabrisa dianteiro perfurado quando passava no viaduto que liga a Rodovia Washington Luiz com a Avenida Brasil, durante os ataques ocorridos na entrada do Conjunto Residencial da Cidade Alta, em Cordovil, na Zona Norte do Rio. A vítima foi socorrida e levada para o Posto do Corpo de Bombeiros da Avenida Brasil, em Parada de Lucas, e depois encaminhado para o Hospital Getúlio Vargas, foi operado e permanece internado.
Ataques também na Região Metropolitana
Duas bombas caseiras foram jogadas nesta madrugada em dois pontos de Itaboraí, na Região Metropolitana. O primeiro foi por volta das 2h contra uma agência da Caixa Econômica Federal. Vinte minutos depois, o Restaurante Popular da cidade foi atacado. A Polícia Militar acredita que os ataques estejam ligados aos atentados ocorridos.
Em Itaboraí, ninguém, ninguém ficou ferido. Policiais Federais seguiram para a Caixa Econômica Federal, acompanhados de peritos. De acordo com policiais militares, os Postos de Policiamento Comunitários de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí tiveram a segurança reforçada, assim como o patrulhamento nas ruas. Em Niterói, a policia também reforçou o policiamento nas proximidades do Presídios Edgar Costa, no Centro, e na Penitenciária Vieira Ferreira Neto, no Fonseca.
Terror até a manhã
Por volta de 7h15, cerca de 20 traficantes da Favela Vila Aliança, em Bangu, colocaram fogo em três ônibus. Um coletivo foi interceptado pelo bando na Rua Maria Estrela com Estrada da Água Branca. Ao mesmo tempo a outra parte do bando ateava fogo em dois ônibus na Estrada do Engenho. Bombeiros do quartel de Bangu e policiais do 14ºBPM (Bangu) foram acionados. Até o momento não há informação sobre feridos.
Um Posto de Policiamento Comunitário (PPC) do 6º BPM (Tijuca) na Estrada Velha da Tijuca, no Alto da Boa Vista, foi atingido por vários tiros às 8h. Os disparos foram feitos por ocupantes de um Fiat Stylo preto. Na troca de tiros, dois policiais foram baleados. O segundo sargento da PM Nílton Serciano Batista Filho foi atingido por um tiro na perna esquerda e levado para o Hospital do Andaraí, onde será operado. O soldado Anderson Nepomuceno foi baleado no braço e medicado no Hospital Ordem Terceira da Penitência, mas será transferido para o Hospital Central da polícia Militar (HCPM), no Estácio.