CEGUEIRA E CINISMO SOCIAL
Pesquisa mostra tolerância com a atuação das milícias
Globo Online ouve 2.016 internautas sobre o assunto
Patrícia Sá Rego (*)
As milícias formadas por policiais e bombeiros, que vêm expulsando traficantes de favelas cariocas, não são completamente rechaçadas pela população.
Uma pesquisa realizada pelo Globo Online sobre a atuação dos grupos mostrou que a maioria dos internautas que opinaram no site (62%) demostraram concordância ou tolerância em relação às milícias que agem na ilegalidade e cobram taxas de moradores de comunidades carentes em troca de proteção. Ao todo, 2.016 internautas votaram.
A opção “não é o ideal, mas pelo menos elas (as milícias) dão paz às comunidades” foi escolhida por 35% dos leitores.
Outros 28% escolheram a resposta “eu apóio e pagaria pela proteção, se fosse necessário”.
A única opção da múltipla escolha que era integralmente contrária às milícias teve a preferência de 37% dos internautas.
Eles optaram por definir esse tipo de atividade como “uma ilegalidade que deve ser tão combatida quanto o tráfico”.
Uma das leitoras que participaram da pesquisa, Márcia Montanha Souza, perguntou: “Por que as milícias conseguem expulsar o tráfico de várias favelas em tão pouco tempo e a polícia inteira, não?” Resultado da pesquisa surpreende especialistas Embora a pesquisa não tivesse metodologia científica e seu único propósito fosse criar um fórum de debate entre os leitores sobre o tema, o resultado surpreendeu especialistas.
A presidente do Instituto de Segurança Pública (ISP) do estado, Ana Paula Miranda, considera que a falta de confiança nas instituições contribuiu para o resultado.
Segundo ela, como a sociedade não confia muito na polícia, costuma buscar soluções para se sentir protegida. Opinião semelhante tem o sociólogo Ignácio Cano, membro do Laboratório de Análise da Violência da Uerj. Ele explica que as comunidades buscam iniciativas que garantam a sua segurança, embora acredite que não haja um apoio maciço às milícias: — As comunidades vão apoiar qualquer iniciativa que garanta paz e tranqüilidade.
Segundo a presidente do ISP, as milícias podem se tornar algo pior do que o próprio tráfico, já que são compostas por profissionais — policiais e até bombeiros — que deveriam respeitar a lei.
Fonte: O Globo, pag. 16 de 19/12/2006.
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