Sunday, January 07, 2007

O LOBO SAI DA PELE DO CORDEIRO











MILÍCIAS SE ESPALHAM POR RUAS DE 17 BAIRROS



Grupos armados, formados por policiais e ex-policiais civis e militares, começam a praticar extorsão no asfalto.


Claudio Motta e Sérgio Ramalho


Dono de uma microempresa em Anchieta, Marcos imaginou que seria assaltado ao parar o carro em frente à sua firma, às vésperas do Natal.

Abordado por dois homens, o empresário passou do medo à incredulidade. Armados, eles se apresentaram como policiais e “sugeriram” ao empresário o pagamento de uma taxa semanal para garantir a segurança da empresa. A história confirma o levantamento feito pela Subsecretaria de Inteligência (SSI), revelando a expansão das milícias para o asfalto, em áreas próximas a favelas, em 17 bairros do Rio.

Depois de expandir o domínio para 92 favelas do Rio, as milícias formadas por policiais, bombeiros, agentes penitenciários e ex-policiais vêm cobrando taxas para “proteger” moradores e comerciantes de áreas próximas às favelas.

O grupo que desde novembro domina a favela Kelson’s, na Penha, vem estendendo suas atividades para o vizinho Mercado São Sebastião. Situado na Avenida Brasil, o complexo, com cerca de dois milhões de metros quadrados, é sede da Bolsa de Gêneros Alimentícios (BGA) do Rio e rota obrigatória de mais de 60% de todos os alimentos consumidos na cidade, segundo levantamento da Associação Comercial de maio de 2005.

“Segurança é milícia com nota fiscal” A presença dos milicianos preocupa o presidente da BGA, José de Souza e Silva. Segundo ele, insegurança é uma dos principais problemas que prejudicam o desenvolvimento do mercado.

— Os milicianos realmente passam pelo Mercado São Sebastião.

O que mais se expandiu ultimamente foi a guarda privada, inclusive as milícias.

É uma atividade ilegal, mas quem criou as milícias foram os ricos. Os seguranças de alguns condomínios são milícias com nota fiscal. As autoridades têm que analisar com profundidade o problema. As milícias começam a ter um domínio não só da comunidade pobre, mas também se transformam numa força política — alertou José de Souza.

Comerciantes do Mercado São Sebastião, que preferiram não se identificar por temer represálias, contam que os milicianos começaram a circular no local depois de consolidado o domínio territorial da Kelson’s, no fim de novembro.

Os primeiros contatos com comerciantes teriam acontecido com os donos de pequenos restaurantes, lanchonetes e trailers.

— Não é de hoje que a insegurança é um problema no Mercado São Sebastião, que já sofreu com uma onda de seqüestros em meados dos anos 90. As grandes empresas já têm seguranças, muitos deles policiais militares que não são da Kelson’s. Por isso os milicianos começam a vender proteção para os pequenos lojistas, que não têm esquemas montados — afirma um dos comerciantes.

O coordenador do Gabinete Militar da prefeitura, coronel Antônio Amaro, fez um relatório, no fim do ano passado, sobre a expansão das milícias na cidade. Ele já recebeu informações sobre a expansão do grupo que domina a Kelson’s, no Mercado São Sebastião.

— A expansão das milícias é um fenômeno novo, ainda estamos reunindo informações da sua atuação fora das favelas, mas sabemos que há influência da Kelson’s no Mercado São Sebastião — disse.

Fonte: O GLOBO, pag. 25, 07/01/2007

Leia: Cartas do Rio de Janeiro


Saturday, January 06, 2007

SECRETÁRIO DO RIO DIZ QUE ONDA DE VIOLÊNCIA TERMINOU

O novo secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, disse hoje que a onda de ataques cessou e prometeu combater o avanço das milícias, grupos paramilitares que expulsam traficantes de favelas cariocas e que aparentemente foram a motivação dos ataques criminosos no Rio. No entanto, ele assinalou que as investigações atingirão outras organizações criminosas no Estado do Rio. "Com relação ao combate às milícias, já enfatizei que temos de agir em várias frentes, não podemos priorizar única e exclusivamente um delito", declarou, pouco depois de ser empossado pelo governador Sérgio Cabral Filho.

Ao dizer que a seqüência de atentados terminou, Beltrame classificou o trabalho feito pela polícia do Rio até agora como "brilhante". "Acho que os ataques não continuam acontecendo. Se estiverem, são ataques esporádicos. A Polícia Civil e a Militar, junto com a inteligência, conseguiram sufocar o que aconteceu".

O novo secretário, que é delegado federal, disse que contará com a ajuda do governo federal para investir no aprimoramento do sistema de inteligência do Rio. "A polícia tem de agir, não pode reagir. Mas precisamos de informações para uma organizarmos uma ação de maneira objetiva, concreta e racional".

Beltrame informou que, ainda este mês, receberá novos equipamentos para formar o que espera ser um dos principais sistemas de segurança "da América". Amanhã, ele se reúne no Rio com o secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa. Beltrame disse que não vê, de imediato, a necessidade de convocar a Força Nacional de Segurança para o Rio, mas informou que esse assunto será tratado na reunião com Corrêa.

"A PM fez um trabalho fantástico, de imediato não acho necessário (convocar Força Nacional), mas faremos uma análise técnica e não exitaremos em chamá-la, caso seja necessário", afirmou ele, após a solenidade. O chefe de Polícia Civil, Gilberto Ribeiro, também foi cauteloso em relação á necessidade de ajuda para combater a recente onda de crimes que atingiu o Estado. Ele disse que "primeiro quer tomar pé das coisas", mas garantiu que irá priorizar a integração entre as polícias Civil e Militar. Beltrame defendeu ainda o mapeamento das delegacias e batalhões da PM mais vulneráveis aos ataques.

Para tranqüilizar a população, o secretário afirmou que vai priorizar o aumento do policiamento nas ruas. Ele dará 30 dias para que todos os policiais em funções burocráticas ou cedidos para instituições como o Tribunal de Justiça e o Ministério Público se apresentem às suas unidades para reforçar o efetivo.

Fonte

NÚMERO DE MILÍCIAS EM FAVELAS DO RJ DOBRA EM 20 MESES

O número de favelas controladas por milícias - grupos paramilitares formados por seguranças, policiais, bombeiros, agentes penitenciários e lideranças comunitárias que expulsam traficantes de favelas - mais do que dobrou, passando de 42 para 92, em 20 meses, segundo relatório da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança.

O confronto entre traficantes e as milícias são um dos motivos alegados por alguns especialistas para a onda de violência ocorrida hoje no Rio, mas há divergências. O secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, afirmou que vem alertando há dois meses sobre o processo de união das facções criminosas contra o avanço das milícias. O secretário de Segurança Pública do Rio, delegado federal Roberto Precioso Jr., discorda e atribui os ataques a uma suposta insatisfação dos presidiários com a troca de governo.

Há mais de 30 anos, em áreas pobres da zona oeste do Rio, a "polícia mineira" mantém os traficantes longe, "garimpando" os criminosos - daí o apelido. No entanto, a expansão dessas milícias, como são classificadas agora pelos setores de inteligência policial, é fenômeno recente, que começou no final da década de 90.

Segundo a socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, há diferenças importantes entre os grupos que atuam há décadas na zona oeste e os que estão surgindo agora. Os de antigamente eram formados por policiais, aposentados ou da ativa, moradores da própria comunidade, que se uniam contra os bandidos. Agora, esses grupos se organizam do lado de fora da favela e invadem a área, destituindo os traficantes do poder.

Atividades paralelas ao tráfico - que fica terminantemente proibido pelas milícias - são assumidas pelos paramilitares. Esse poder paralelo inclui o controle do transporte alternativo (vans e moto-táxis), a distribuição ilegal de pontos de TV a cabo e, em alguns casos, a cobrança de taxas de moradores e pequenos comerciantes.

Fontes da Secretaria de Administração Penitenciária informaram que o setor de inteligência do sistema prisional já havia detectado a insatisfação dos chefes das facções, especialmente do Comando Vermelho, com os prejuízos provocados pelo avanço das milícias que atuam principalmente na zona oeste, em favelas de Jacarepaguá, Jabour e Senador Camará. Nessas localidades, o prejuízo das quadrilhas teria sido muito grande com a expulsão das quadrilhas das favelas.



Fonte

SINDICÂNCIA VAI INVESTIGAR APOIO DE PMS A MILÍCIAS NO RIO

A Corregedoria da Polícia Militar abriu sindicância para investigar se policiais militares estão dando apoio a colegas que atuam em milícias nas favelas da cidade. No fim do ano passado, eles teriam passado mensagens pelo rádio da PM incentivando milicianos. E usariam carros da corporação para dar cobertura às suas ações.

A PM abriu um inquérito no ano passado para apurar a participação de policiais do 9º Batalhão da PM em milícias, mas não conseguiu comprovar a atuação. A ONG Observatório das Favelas, que mantém contato direto com comunidades carentes, recebeu denúncias de moradores comprovando a participação de policiais.

A última tentativa de invasão teria sido, segundo a entidade, na favela Cidade de Deus, na zona oeste. Os policiais teriam retirado uma barreira feita pelos traficantes para impedir a entrada de veículos, o que facilitou a ação da milícia. De novembro a janeiro, moradores de pelo menos cinco comunidades contaram histórias parecidas.




Pedido

Por meio de uma carta, 13 associações de familiares de vítimas do crime organizado pediram que o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) determine o combate às milícias que atuam em favelas cariocas e à violência. Auto-intitulados "especialistas em segurança pela dor", eles querem ser ouvidos - e devem se encontrar com o secretário de Governo, Wilson Costa, na semana que vem. O governador também foi convidado.

Na segunda-feira, essas entidades e outras, de direitos humanos, prometem fazer uma manifestação em frente ao Palácio Guanabara. "A prática nos ensinou que precisamos de uma polícia técnica e não uma polícia de indicação política. O desgaste sofrido durante tanto tempo foi outro fator que fez de cada um de nós vitimas diretas da violência, especialistas em segurança pública, de tanto freqüentarmos Ouvidorias, Delegacias, Batalhões, Secretarias de Direitos Humanos, Defensorias Públicas, Ministério Público, Fórum", relata a carta.

O presidente da Associação de Praças da PM e do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio, Vanderlei Ribeiro, disse que desconhece policiais fardados agindo com as milícias. "Se realmente as milícias progredirem nesse serviço, significa dizer que a polícia oficial é de segunda categoria. A polícia de verdade não tem de ser substituída pelas milícias." Segundo ele, o atual comando vai modificar todo o esquema de policiamento para dar maior proteção às comunidades.

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ATAQUES TIVERAM MOTIVAÇÃO COMERCIAL, DIZ INSPETORA

Responsável pela prisão de alguns dos mais procurados traficantes do Rio, a inspetora Marina Maggessi, deputada federal eleita (PPS), afirmou ontem que a motivação para os ataques de traficantes do Comando Vermelho (CV) na madrugada de ontem foi meramente comercial. “Não há conotação política. As milícias atrapalharam os negócios deles e, por isso, reagiram”, disse ela.

Segundo Maggessi, o CV, que já foi a principal facção organizada do País, está “acabado”, já que os principais chefes da quadrilha estão presos e perderam alguns de seus maiores pontos-de-venda para quadrilhas rivais, como as Favelas do Vidigal e da Rocinha, na zona sul do Rio. “Se eles tivessem força não sairiam matando inocentes, mas invadiriam a (favela) Kelson’s e todos os outros lugares que têm milícia.”

A inspetora, que já chefiou o Centro de Inteligência da Polícia Civil e mais recentemente era encarregada das investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes, disse ter a informação de que os ataques foram combinados na Favela da Mangueira, em São Cristóvão, na zona norte. “Tudo está concentrado lá, as armas, de onde saíram os comboios.” Segundo ela, a polícia não sobe a Mangueira “porque os riquinhos vivem lá na quadra da escola de samba e eles têm proteção política”.

Não há um mentor, segundo Maggessi. “É um bando de moleque cheirador de cocaína. Decidiram aterrorizar, conseguiram autorização dos líderes presos e saíram feito doidos.” Além dos traficantes da Mangueira, disse, vieram criminosos do Morro da Providência (centro), do Complexo do Alemão, Vila Kennedy, Nova Holanda e Vilar Carioca (todos na zona norte). Para ela, os ataques vão continuar: “A partir de amanhã (hoje) terão 4 mil policiais patrulhando a orla, eles vão virar alvo.”

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MAIA OFERECE EMPRÉSTIMO A CABRAL PARA CONTER VIOLÊNCIA

O prefeito Cesar Maia (PFL) ofereceu dinheiro ao governador eleito Sergio Cabral Filho (PMDB) para o pagamento da segunda jornada dos policiais militares, com o objetivo de dobrar o efetivo nas ruas. Maia crê que essa seria a solução para a crise de segurança que atinge o Rio. O prefeito lembrou que emprestou dinheiro com o mesmo fim ao governador Marcelo Alencar (PSDB). Ele pediu ainda ajuda das Forças Armadas para o patrulhamento das vias expressas, como Avenida Brasil, e linhas Amarela e Vermelha.

O prefeito não acredita na versão do Secretário de Segurança Pública, Roberto Precioso, de que os ataques foram motivados pela mudança de comando na Secretaria de Administração Penitenciária. "Essas ações vinham ocorrendo pontualmente e vêm crescendo. E a explicação está na atuação das milícias, que ampliam a ocupação nas comunidades, e expulsam o tráfico", afirmou.

Para o prefeito, a mensagem dos criminosos foi clara. "O que se pretende com os ataques é fazer com que a polícia não-fardada interrompa a ocupação. Esse fato (atuação das milícias) é extremamente grave porque tanto de um lado (tráfico) quanto do outro (milícia) não há lei".

Maia defendeu que a Secretaria de Segurança centralize seu trabalho em três frentes: "fortalecer o policial competente, combater o mau policial e não permitir a atuação de pára-militares".

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REFORÇO PARA AS MILÍCIAS

MAIS SEIS PMS PRESOS POR LIGAÇÃO COM TRÁFICO




Policiais são acusados de vender armas a bandidos e de dar proteção a criminosos contra quadrilhas rivais


A Corregedoria da PM prendeu ontem mais seis policiais acusados de envolvimento com o tráfico de drogas, dando continuidade à Operação Tingüi, desencadeada pela Polícia Federal, no mês passado.

O juiz Marcelo Villas, da 1aVara Criminal de Madureira, decretou a prisão preventiva (que vale por todo o processo) de 70 policiais militares e de Bruno da Silva Loureiro, chefe do tráfico da Favela do Muquiço, em Guadalupe.

Desse
total, 60 policiais já estavam presos temporariamente, desde o dia 19 de dezembro, quando a operação da Polícia Federal foi deflagrada.

Ainda falta prender quatro policiais militares Na época, a Justiça decretou a prisão temporária (que vale por 30 dias) de 66 PMs, mas seis deles haviam cometido crimes militares, como extorsão mediante seqüestro e corrupção passiva, cuja competência é da Justiça Militar.

O juiz Marcelo Villas encaminhou esses casos para a Auditoria Militar, mas os PMs continuam presos. Todos os detidos estão no Batalhão Especial Prisional (BEP), em Benfica. Ainda falta prender quatro policiais.

No total, 76 PMs foram denunciados pelo Ministério Público estadual, após terem sido investigados pela Polícia Federal e pela Corregedoria da Polícia Militar. De acordo com a sentença do juiz Marcelo Villas, os 70 policiais que tiveram a prisão preventiva decretada no último dia 2 vão responder a processo por tráfico, associação ao tráfico e formação de quadrilha. Eles são acusados de vender armas a traficantes, além de proteger os bandidos de ataques de quadrilhas rivais.

Nas investigações feitas pela Polícia Federal com a ajuda de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, foram identificadas diversas equipes de policiais que utilizavam codinomes nas conversas com traficantes da Favela do Muquiço.


Juiz: “caso mostra situação grave da segurança pública”.

Em sua decisão, o juiz Marcelo Villas disse que “o envolvimento de vários policiais militares com o crime organizado acaba por denotar o quão grave e delicada é a situação concernente à segurança pública no Rio de Janeiro, sendo certo que a segregação cautelar de todos os envolvidos subsidiará a dissipação do sentimento de insegurança e impunidade que atualmente a população do Rio de Janeiro detém”.

Os dez policiais com mandados de prisão expedidos ontem são do 1.º BPM (Estácio), do 4.º BPM (São Cristóvão), do 9.º BPM (Rocha Miranda), do 16.º BPM (Olaria), do 17.º BPM (Ilha do Governador), do 18.º BPM (Jacarepaguá), do 23.º BPM (Leblon), do Batalhão de Policiamento de Vias Especiais (BPVE) e do Batalhão de Choque (BP Choque).

No mesmo dia 19, quando foi deflagrada a Operação Tingüi, o comandante do 14o BPM (Bangu), coronel Celso Nogueira, onde 40 policiais foram presos, foi também detido, em outra operação da Polícia Federal, denominada Gladiador

Coronel é acusado de ligação com contraventor O oficial é acusado de ligação com o contraventor Fernando Iggnácio, preso sob a acusação de explorar máquinas de caça-níqueis. Nogueira foi filmado num encontro com Iggnácio, num restaurante na Barra da Tijuca.

Fonte: O GLOBO – RIO – Pg 14 – 2/01/2007