COMANDO AZUL: ACABAR COM O MAL PELA RAIZ
ESPECIALISTAS ADVERTEM: É PRECISO COMBATER MILÍCIAS
Atualmente, 92 favelas do Rio são dominadas por grupos de policiais.
Eles vendem segurança e extorquem os moradores.
A situação é gravíssima, atestam os estudiosos, sobre a violência e o crescimento das milícias formadas por policiais que estão amedrontando e tomando conta das favelas do Rio de Janeiro. Mas, se o Estado agir rapidamente, a cidade ainda tem chances de se livrar de mais essa mazela, diz o antropólogo Luiz Eduardo Soares. O governador eleito Sérgio Cabral afirma que vai enfrentar o problema com eficiência, mas não informa que estratégia vai usar. Para a cientista social Sílvia Ramos, as milícias são o reflexo do atraso de 20 anos na realização de políticas públicas de segurança para a periferia.
Como revelou o jornal O Globo, nos últimos 20 meses, 92 favelas da cidade foram invadidas por grupos de policiais e bombeiros da ativa e da reserva que, a pretexto de garantir a segurança nas comunidades, passaram a ameaçar e extorquir moradores e comerciantes, cobrando taxa de proteção. As milícias estão substituindo os traficantes, mas continuam exercendo um poder paralelo ao do Estado.
Em entrevista concedida por telefone à Rádio CBN, de Buenos Aires, o governador eleito Sérgio Cabral afirmou que não vai repetir o erro de outros governos. Ele pretende combater as milícias com a legalidade. Cabral diz que o estado é capaz de atender as necessidades e demanda da população.
A sociedade está doente
O coordenador de comunicação do Movimento Viva Rio, o filósofo Tião Santos, acredita que o Rio vive uma epidemia de violência. A cura, segundo ele, está em ações preventivas, como as atividades sociais para os jovens. Para ele, as milícias estão ocupando os espaços que o Estado deixou para trás.
“Vivemos numa sociedade doente, tomada pela violência. É natural que as comunidades fragilizadas pelo tráfico de drogas procurem os caminhos mais práticos para se defender. Mas, assim como as ONGs não podem substituir o governo, as milícias não podem substituir a Polícia. Não podemos tratar esse tema com superficialidade. Não podemos cair no erro de comparar segurança privada dos condomínios da Zona Sul com as milícias nas favelas. Na primeira, os moradores dizem como querem sua segurança. Na segunda, as milícias impõem seus códigos de conduta pela força aos moradores. Não podemos assumir o que é dever do Estado”, defendeu Santos.
Para o antropólogo Luiz Eduardo Soares, o Rio está vivendo uma regressão ao estado de barbárie do século XIX, na Europa. Ele lembra que a instituição Polícia surgiu na Inglaterra justamente para controlar os grupos de justiceiros.
“As milícias começam oferecendo proteção, mas depois dominam a comunidade. Tiranamente, assumem o comércio, a distribuição de gás e de serviços, o transporte e passam a impor suas próprias leis. Praticam todo tipo de perversão. E aí a proteção vira escravização. Em breve, esses grupos vão estar competindo entre si como os traficantes”, comentou Luiz Eduardo, lembrando que a prática das milícias remonta a década de 50, mas sua expansão vem se dando nos últimos três anos.
A solução, segundo o antropólogo, é simples e deve ser rápida. Para combater o poder paralelo das milícias, o Estado tem de mostrar sua força e sua autoridade e assumir o seu papel. “É fundamental agir rapidamente. A imprensa já fez parte do trabalho, levantando as áreas onde essa máfia está agindo. Agora, cabe ao Estado identificar esses maus policiais, abrir inquéritos e afastá-los da Polícia. É preciso promover uma intervenção rápida. Só assim o Estado terá sua autoridade restabelecida e respeitada. Do jeito que está o Estado está desmoralizado”, enfatizou o antropólogo.
Falsa tranqüilidade
A cientista social Sílvia Ramos vai ainda mais longe. Para ela, as milícias representam um perigo maior que os traficantes, pois se mostram mais organizados para promover extorsão contra moradores e comerciante e para dominar as favelas. Ela diz que o falso sentimento de alívio que esses grupos causam quando assumem o controle da comunidade confunde os moradores.
“No começo, eles se sentem aliviados, se sentem protegidos. Quando percebem que estão sendo dominados, o terror já está fora do controle. Isso demonstra com mais clareza a total ausência do Estado nas favelas e comunidades da periferia do Rio. É um problema que se arrasta há 20 anos por falta de uma política pública de segurança para essas áreas”, observou Sílvia.
O sociólogo Ignácio Cano diz que as milícias surgem justamente onde as pessoas não são tratadas com cidadania. Para ele, os grupos paralelos comandados por policiais representam um grande perigo. Eles são a Polícia agindo como bandidos contra a Polícia.
“Precisamos de uma Polícia eficiente e uma investigação profunda para identificar e afastar os maus policiais. É preciso que o Estado reocupe o seu lugar, como já acontece no Morro do Cavalão, em Niterói, onde a Polícia tirou os traficantes e o governo assumiu o seu papel”, concluiu o sociólogo.
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